domingo, 23 de julho de 2017

I N C O N T E S T Á V E L

Filipe Toledo   2017    J-Bay  

A etapa da WSL na África do Sul entra para a história com ondas fantásticas todos os dias e um padrão de surf nunca visto na WSL. O brasileiro Filipe Toledo extrapolou em todos os fundamentos, na base, na crista (“lip”), nos tubos e até no ar.
MONTAGEM QUE PREPAREI COM A COBERTURA DE SUA VITÓRIA EM DIVERSOS SITES
IMAGENS DE KELLY CESTARI, STEVE SHERMAN, PIERRE TOSTEE... RETIRADAS DOS SITES DA SURFE NORDESTE, SURFAR, SURFLINE E DA EQUIPE DE FILMAGEM DA WSL

O insano floater que Filipinho aplicou na final (abaixo e a esquerda na imagem acima) ocorreu em um momento de chuva, tive que buscar nas filmagens da WSL e congelar a imagem, pois não encontrei fotos. O fato é que a performance de Filipe foi glorificada por todos os comentaristas, em especial pelo campeão mundial de 1977, o sul africano Shaun Tomson, primeiro surfista a varar a seção de Impossibles, surfando em direção ao Point final de J-Bay e seguindo até Albatross, a última seção da onda, que desemboca em um beach break, uma milha down the line. Shaun destacou que o segredo para surfar bem a onda de Jeffreys é a forma como o surfista lida com a velocidade, ao longo do percurso. 
ACIMA, MAPA COM AS SEÇÕES DE JEFFREYS BAY

ABAIXO, IMAGEM AÉREA RETIRADA DO PORTAL DA ALMASURF
CORTESIA DA MARCA OK (OUTERKNOWN) DE KELLY SLATER

Em 2017 Toledo era o que estava andando mais veloz ali. Isso reforçado até por depoimento de Mick “White Lightning” Fanning. E também pela cara que o contender ao título, Owen Wright, fez ao ver o replay da hoje famosa onda de Filipnho no telão. Quem não viu esta onda dele, busque na web e assista. Um absurdo.
No site da revista australiana Stab a chamada utilizava uma pergunta: “Será que Filipe encadeou a melhor onda da história em um campeonato?” E ainda trazia outra aspas de Shaun Tomson. “Foi uma das mais grandiosas ondas de competição que presenciei”, sobre a onda de Filipinho em que ele mandou dois aéreos (cada um – por si só – já poderia valer um 10) e ainda desferiu meia dúzia de belíssimas rasgadas no inside.
RECORTE DO SITE WAVES COM FILIPE SENDO CARREGADO RUMO AO TOPO DO PÓDIO

IMAGEM CAPTURADA DO FACEBOOK DE PIU PEREIRA, EX-ATLETA DA ELITE, COM A SUA OBSERVAÇÃO E AINDA PITACOS DO DR. JOEL STEINMAN E DO PROFESSOR CHICO PAIOLI

FILIPE TOLEDO COM UM TROFÉU QUE DAQUI A DÉCADAS SERÁ LEMBRADO COMO UMA DAS PERFORMANCES MAIS ARRASADORAS DA HISTÓRIA DO SURF MUNDIAL
IMAGEM CAPTURADA DO REMODELADO SITE DO RICOSURF
VALE CONFERIR OS COMENTÁRIOS DE MARCELO BOSCOLI E MARCELO ANDRADE, MODERADOS POR CARLOS MATIAS NOS EPISÓDIOS "DE OLHO NO TOUR"

O que acho importante destacar aqui é a performance geral de Filipe nesta etapa, uma das que, em toda a história da IPS (1976\1982) - ASP (1983\2014) - WSL (2015...), pode ser considerada de ondas excepcionais, com diversos atletas surfando em alto nível, quase dez notas 10 auferidas. Uma etapa para ser colocada no nível do campeonato de Bells Beach vencido por Simon Anderson em 1981, ou da etapa francesa de 2004 o Quiksilver Pro com uma final entre os irmãos Andy e Bruce Irons em ondas imensas e perfeitas em La Nord, ou do evento Rip Curl The Search, realizado em 2006 no México, ou ainda do Volcom Fiji Pro de 2012 e... Também da etapa Billabong Pro Tahiti de 2014, vencida por Gabriel Medina. Além de diversos eventos épicos que aconteceram no Hawaii.
CAPA DA REVISTA HARDCORE NÚMERO #299, GABRIL MEDINA EM TEHUPOO
FOTO: TOM SERVAIS

A teoria que desejo lançar nesta postagem é que a fase pela qual passa o surf brasileiro profissional de elite é realmente extraordinária. É como se estivéssemos vivendo um legado tipo de Fittipaldi, Piquet e Senna. Só que agora no surf. Medina também foi dominante nesta etapa excepcional de Teahupoo e os brasileiros têm chegado junto e com força em qualquer cenário. A ponto de fechar uma final verde amarela em Pipeline no ano de 2015 (pena) com ondas mais ou menos.

Vejam agora como está o ranking atual da WSL, com 3 brasileiros entre os TOP 10. Acredito que o título desta temporada ficará com um dos 9 primeiros do ranking. Reservo uma remota possibilidade para Fanning (11º) atacar os líderes.

Vamos dar uma passada pela atual situação dos 9 brasileiros que disputam na elite em 2017, com imagens apenas desta etapa de J-Bay.

ADRIANO DE SOUZA - 5º COLOCADO APÓS J-BAY
Adriano de Souza começou a se colocar entre os TOP 5 com consistência a partir de 2009. É o mais experiente dos brasileiros na elite e deve finalizar este ano de forma consistente, objetivando mais um título.
FILIPE TOLEDO - 7º COLOCADO
A suspensão de Filipe em Fiji vai funcionar como um “jump” para ele após a etapa da França, quando será o único dos postulantes ao título que vai descartar um 0 (zero) pontos. E vai continuar no foco, estejam certos.
GABRIEL MEDINA - 9º COLOCADO
Gabe não vai passar um ano sem vitórias na WSL, talvez duas? O surf dele está afiado como sempre e as etapas que se aproximam são altamente favoráveis a seu estilo. Aliás, Medina hoje, excede em qualquer terreno.
CAIO IBELLI - 16º COLOCADO
Uma das características de Caio é surfar bem ondas maiores, com uma linha limpa, precisa e um ataque seguro. Seu surf está encaixado nos padrões da WSL e sua inteligência competitiva é um fator “x”.
ÍTALO FERREIRA - 22º COLOCADO
A vitória em um evento da elite ainda não veio. O vice-título no Mundial Pro Junior também foi um detalhe, foi o melhor no evento de 2014 mesmo perdendo para o local Vasco Ribeiro. Ítalo tem um título da Abrasp.
WIGGOLLY DANTAS - 25º COLOCADO
Portador de um estilo vistoso e sólido, Wiggolly não alivia em seu espetacular ataque de backside, moldado nas consistentes direitas de Itamambuca. De front graduou-se nos tubos de Pipe. Surfista completo.
IAN GOUVEIA - 26º COLOCADO
A linhagem Gouveia de tuberider instintivo fica cristalina no surf de Ian, seja de front, ou de backside. Podemos dizer que Ian Gouveia mistura ingredientes de Fabinho e Occy regados com boas doses de modernidade.
MIGUEL PUPO - 32º COLOCADO
FOTO: STEVE SHERMAN
Miguel Pupo ainda não teve uma temporada contundente, saindo de forma confortável da linha de corte. Uma famosa onda dele em Pipeline trouxe comparações a Lopez. Sua linha é linda. Está devendo um pódio no WCT.
JADSON ANDRÉ - 32º COLOCADO
FOTO: STEVE SHERMAN
Jadson já foi protagonista de uma vitória marcante sobre Kelly Slater em Imbituba. Em 2014 jogou bonito para disputar, contra John John, uma final na França em ondas de “responsa”(bilidade). Valioso guerreiro.

O fotógrafo Steve Sherman de San Diego, ou o australiano Peter “Joli” Wilson, acompanham o surf profissional por décadas e têm retratos cheios de sensibilidade dos surfistas em seu ambiente. As fotos em preto e branco de Sherman são verdadeiras obras de arte. Mas continuando nossa saga do surf brasileiro no World Tour vamos buscar a raiz da tempestade. E constatar também que a “Brazilian Storm”, não está dando sinais de que vai arrefecer, basta olhar o atual ranking do WQS da WSL bem agora nesta metade da temporada 2017, com três brasileiros na cabeça.


Vou mais longe, no passado, buscando a reprodução de uma matéria que fiz para a edição de 15 ANOS da revista Hardcore, com um levantamento de toda participação brasileira na segunda era de profissionalismo, capitaneada por Fabio Gouveia e Teco Padaratz.
Estou atualizando estas informações para meu livro que deve começar a ser lançado (em 5 VOLUMES) a partir do final deste ano.
REPRODUÇÃO DA REVISTA HARDCORE #176, ABRIL DE 2004

NA CAPA, BINHO NUNES
FERNANDO DE NORONHA
FOTO: JAMES THISTED
Analisem os detalhes, os novos surfistas que foram entrando no cenário a cada ano e também o brasileiro que ficou melhor colocado na ASP ao final de cada temporada. Victor Ribas deteve por 15 anos a hegemonia de um terceiro posto, desde 1999, até a vitória de Gabriel em 2014. Se não conseguirem ler aqui no blog, baixem a imagem e ampliem que dá para ver todas estas interessantes informações.

Busquei ainda uma reprodução de página da Brasil Surf na edição de Março\Abril de 1978, que trazia o ranking final de 1977 na IPS, com três brasileiros constando entre os 60 melhores. Daniel Friedmann venceu o Waimea 5000 de 1977, em seguida houve uma lacuna de vitórias brasileiras na WSL que durou até 1990, quando Fabinho sai vitorioso no Hang Loose Pro Contest realizado no Canto do Maluf, em Pitangueiras, no Guarujá.
2/3 DE UMA PÁGINA INTERNA DA BRASIL SURF – ANO 3 – N. 4
O ENUNCIADO DA LEGENDA DEVE SER CORRIGIDO, POIS O RANKING É DE 1977, ESTA EDIÇÃO FOI PARA AS BANCAS EM MARÇO DE 1978
DANIEL FRIEDMANN APARECE EM 21º, RICO DE SOUZA EM 42º E CARLOS MUDINHO EM 56º. NO TOPO, A IMAGEM DE AÇÃO É DE SHAUN TOMSON
CAPA DA EDIÇÃO, QUE TRAZIA PEPÊ LOPES SURFANDO NO QUEBRA-MAR DO RIO
FOTO: NILTON BARBOSA

Existe toda uma linhagem do surf profissional brasileiro, que passa por Pepê e Daniel campeões dos anos 1970, cresce a partir de 1988, quando Gouveia venceu o Mundial Amador de Porto Rico e culmina com a Brazilian Storm da década de 10.
A lacuna de eventos internacionais em nossas águas de 1982, quando o Waimea 5000 parou, até 1986, quando o Hang Loose Pro Contest trouxe de volta o circuito (na época ASP) para o Brasil... Foi fatal. Corremos atrás de paridade com os melhores do mundo por muito tempo, Gouveia, Padaratz, Vitinho e Peterson Rosa se encaixaram entre os TOP 10 ao final de uma temporada, mas nunca chegamos a brigar forte por um título da ASP.
Isso começou a mudar na atual década. O ano de 2011 foi emblemático para o surf brasileiro com as três vitórias de WCT seguidas no final do ano. Medina na França e São Francisco, intercaladas pela vitória de Mineirinho (sobre Kelly) nas melhores ondas que já quebraram em Portugal, evento que poderia ser encaixado naquela lista acima e vencido por um brasileiro TAMBÉM. Some a isso as vitórias do primeiro semestre em eventos Prime do QS de Medina em Imbituba e Miguel Pupo em Trestles. O ano de 2011 foi a formação da tempestade, aquele vento frontal que entra forte e prenuncia a mudança.
Só que o fenômeno “Tempestade Brasileira” nunca mais parou. Em 2014 veio o título de Gabriel Medina. Em 2015 Mineirinho e o bi, fechando a temporada com barba, cabelo e bigode – Pipe Masters, Triple Crown e Título Mundial. O Brasil foi alçado ao panteão das grandes potências do surf mundial e tem mais a caminho. A imagem abaixo, recortada de um post show da WSL, mostrando algumas das maiores pontuações do Corona Open J-Bay, com a vitória I N C O N T E S T Á V E L de Filipe Toledo é mais um atestado.

Hoje os brasileiros são protagonistas nas etapas com as melhores ondas. Este Corona Open 2017, um evento épico para os anais da história do surf, da mesma forma que a vitória de Occy em 1984, único goofy a vencer em J-Bay, ou a eletrizante final de 2005 entre Andy Irons e Kelly Slater. Vale lembrar ainda que em 2000 Peterson Rosa fez uma final contra Jake Paterson em J-Bay e que em 2012, Adriano de Souza venceu um QS com excelentes ondas nos dias iniciais, com John John e Jordy disputando e ficando pelo caminho e que embora a final contra o francês Joan Duru tenha ocorrido em ondas mexidas, a garra de Mineirinho foi preponderante, para buscar um resultado marcante nos minutos finais.

Agora vamos para o Billabong Pro no Tahiti. A história continuará a ser escrita. Porém, antes disso, mandarei uma postagem “das antigas” aqui neste blog, que anda em paralelo com o projeto cultural do livro “A Grande História do Surf Brasileiro”.

SAIBA MAIS EM: WWW.HSURFBR.COM.BR


sábado, 1 de julho de 2017

MARACA, PARTE 2

Um legado de histórias memoráveis

Aqui trarei mais alguns trechos das entrevistas que fiz com Maraca (Rossini Maranhão Filho), em agosto de 2015. Maraca foi surfar nas estrelas, mas o legado deste paraense radicado no Rio de Janeiro, é de expressão ímpar. Busquem o início de sua história postada em março deste ano.
MARACA EM SAQUAREMA, NA VARANDA DE UM DOS PRÉDIOS ERGUIDOS NA PRAIA DE ITAÚNA. CAMAROTE VIP PARA APRECIAR O QUIKSILVER PRO WQS DE 2012.
FOTO: NILTON BAPTISTA

Maraca, faleceu no Hospital de Bacaxá no final de 2016 devido a uma hemorragia e numa situação em que os estoques de sangue que precisava para transfusão se esgotaram e não chegaram a tempo do Rio de Janeiro. Maraca estava com 64 anos e continuou surfando até o fim.

ROSSINI MARANHÃO FILHO EM ITAÚNA.
FOTO: LUCIANO SANTOS PAULA

Em agosto de 2015, na casa de Jacques Nery em Itaúna fiz uma sequência de gravações em que Maraca passou empolgadamente muito de seu conhecimento e vivência neste “nosso” mundo do surf. Coloco aqui mais algumas de suas histórias.

ROSSINI MARANHÃO FILHO, EM FINAL DE TARDE MARAVILHOSO NO JARDIM DA CASA DE JACQUES NERY EM SAQUAREMA, LOCAL EM QUE GRAVEI ESTE DEPOIMENTO COM MEU CELULAR
FOTO: JACQUES NERY

Em março deste ano editei a história contada por Maraca até seu regresso do Hawaii e Peru em 1970. Ele chegou no início da Era do Píer de Ipanema, trazendo uma prancha mini model muito avançada e praticou um surf que era observado com atenção pelos expoentes cariocas daquele início de uma nova década que começava a revigorar a forma de surfar no mundo. O estilo clássico dos pranchões abria espaço para uma abordagem totalmente nova e mais radical.

NO BACKDOOR DO PÍER MARACA ERA UM DOS SURFISTAS QUE DESCIA COM SEGURANÇA E EXIBIA UMA LINHA DIFERENCIADA NAS ONDAS.
FOTO: FEDOCA (DO ÁLBUM DA TOTEM)

Rosaldo Cavalcanti foi um dos surfistas que teve estreito relacionamento com Maraca, trabalhando ao lado dele e tendo-o como colunista no Jornal Staff, produzido ao lado de Fred d’Orey e depois no Now, em que além de colunista Maraca atuou no departamento comercial.

Vejam o depoimento que colhi de Rosaldo neste primeiro semestre de 2017: “O Maraca foi um surfista muito importante, o segundo brasileiro a ir passar uma temporada no Hawaii, presenciou o histórico swell de 1969, quando Greg Noll pegou aquela famosa onda em Makaha – contou várias histórias. Não cheguei a ver o Maraca surfando no Arpoador em 1970, assim que ele voltou do Hawaii, foi o Ricardo Bocão que me contou de suas performances, mas sei que o surfe que Maraca fez, no início dos Anos 1970, no Arpoador e no Píer serviu para determinar um ponto de partida, um ponto de evolução. Esse fato tem uma importância muito grande porque ele mostrou para os brasileiros como estava se surfando no Hawaii, na Meca do surf. Os brasileiros estavam aprendendo a surfar e ele veio com uma prancha feita no Hawaii com materiais havaianos, trouxe em seu surfe tudo que havia visto no Hawaii, a noção de um novo estilo de vida, uma coisa mais country, não era tanto a cidade grande. Todo aquele estilo de vida em que o surfista era meio confundindo com hippies, de buscar o contato coma natureza. Sempre atrás da onda perfeita. Fez parte da formação inicial do surf brasileiro no Píer e em Saquarema.”
Rosaldo continua: “O Maraca para mim sempre foi um surfista fissurado. Quando ele falava de onda ele se empolgava. Um sujeito muito empreendedor, um cara com caráter nobre, uma pessoa do bem. Nunca vi ele reclamando da vida. Era um sonhador. Ele escreveu colunas no Staff, no Now, foi diretor comercial do Now. Ele aparecia com a coluna lá na redação e a gente falava ‘Lá vem o Maraca com a história dele’, eram fantásticas e a gente falava: ‘Pô Maraca, dá uma aliviada’. As principais histórias eram de Saquarema e do Hawaii. Ele sempre tinha um projeto novo FANTÁSTICO e morreu sem realizar o último projeto dele, um filme sobre Saquarema” finaliza Rosaldo.

MELHOR ONDA K era o projeto em que ele estava trabalhando, finalizando e tentando viabilizar a exibição no circuito de cinemas. Já existe até um teaser com belas imagens na internet. Uma parceria ao lado de seu grande amigo Luiz Ignácio Guimarães, que estava colhendo incríveis imagens atuais, mas Maraca havia pesquisado muitas cenas antológicas de surf em Saquarema, que também estão presentes no filme.

Para divulgar o filme Maraca e Luiz Ignácio escalaram a laje de Itaúna. Estas fotos acabaram sendo utilizadas em homenagem ao Legend.


FOTO: LUIZ IGNÁCIO

A experiência de Maraca com filmes de surf no Brasil é antiga. Ele participou da produção do primeiro longa metragem, um documentário narrado pelo global Sérgio Chapelin – NAS ONDAS DO SURF, que foi exibido em cinemas de todo o Brasil em 1977.

ANÚNCIO PUBLICADO NA REVISTA BRASIL SURF NOS ANOS 1970 COM O POSTER DO FILME E UMA FOTO DE RICARDO BOCÃO DROPANDO PIPELINE DE FUNDO

MARACA E SEU PARCEIRO NA REALIZAÇÃO DE “MELHOR ONDA K”, LUIZ IGNÁCIO
FOTO: LUCIANO SANTOS PAULA

A participação de Maraca na estruturação do surf brasileiro e principalmente em Saquarema foi marcante. A partir de 1975, quando os festivais de surf foram realizados na cidade que ajudou a desbravar e escolheu para passar seus últimos dias, Rossini Maranhão participou da organização dos eventos da Ala Moana e da Copa CCE, os lendários Festivais de Saquarema. Mais tarde Maraca trabalhou com jingles comerciais. Também, ao lado de seu maior amigo e grande parceiro Otávio Pacheco, organizou eventos de longboard, do circuito mundial da ASP em Saquarema. E ainda dois eventos especiais, de pranchão, patrocinados pela Red Bull em Maresias 1998 e também na Barra, na praia do Pepê em 1999, com altas ondas e a presença de Clyde Aikau.

MARACA AO LADO DO PREFEITO E DE CAULI RODRIGUES, VENCEDOR NO FESTIVAL DE SAQUAREMA EM 1982. CAULI FOI O ÚNICO BICAMPEÃO EM ITAÚNA NA ERA DOS GRANDES FESTIVAIS PRÉ-ABRASP (78 e 82). REPRODUÇÃO VISUAL ESPORTIVO

MARACA EM MARESIAS DURANTE UM DOS EVENTOS “SURF & BEACH LEGENDS” ORGANIZADOS POR MARK LUND E CLAUJONES ANDRADE E PATROCINADO PELA OXBOW – FINAL DOS ANOS 1990
FOTO: RAFAEL SOBRAL

Vamos agora dar asas para mais algumas histórias contadas por Maraca e que gravei com ele em agosto de 2015, em uma agradável tarde em Saquarema.

MARACA, JACQUES NERY E DRAGÃO, ITAÚNA
FOTO: TONICO VASCONCELOS

A partir de 1970, de volta ao Brasil com a cabeça chacoalhada pelos caldos havaianos (ver histórias da postagem MARACA PARTE 1) e expandida por uma experiência de um solitário brasileiro na pauleira das ilhas, incentivado por amigos peruanos, shapers americanos e os mais tarimbados surfistas do Hawaii, Maraca voltou ao Brasil com novas ideias e atitudes.
Rossini Maranhão, mais uma vez com a palavra:
“Eu e Wanderbill começamos a fabricar pranchas lá na favela do Pavãozinho. Começamos a descascar pranchas e montamos uma oficina lá, com cavaletes. As pranchas chamavam MAREOCA, o mar e a casa. Uma expressão indígena, porque o mar era a nossa casa.
Depois me mudei para a Barra, perto do Quebra-Mar e trabalhávamos na oficina, eu, Wanderbill, Otávio fazendo pranchas, fizemos muitas pranchas, cada um com seus shapes. Eu encapava, lixava. Aqui em Saquarema eu trabalhei na fábrica do Betão e do Bocão, eu era o lixador. Eu cheguei a fazer muitos shapes também, mas tive uma intoxicação de espuma e resina. Eu shapeava, encapava, lixava, fazia tudo. Parei no meio dos 70, porque eu comecei a fazer os campeonatos.

BOCÃO, MARACA E BETÃO, SAQUAREMA ANOS 1970
FOTO: ARQUIVO PESSOAL BETÃO

Maraca continua: “Já nos festivais da Ala Moana (Manoel Urbano) eu ajudei a fazer tudo, ainda nos anos 70, todos os campeonatos de Saquarema eu estive envolvido com a produção. Nas reuniões precedentes, organizávamos tudo para eles realizarem o evento. Eu fazia os contatos com o pessoal daqui, tinha uma equipe que sempre ajudava.”

FINAL DE ABRIL DE 1971 – ONDA NO BAIXIO
“Quando eu voltei do Hawaii, eu passei pelo Peru, competi lá e fui sétimo no Mundial de Olas Grandes. Foi minha melhor classificação em ondas grandes em Punta Rocas. Fiquei em sétimo porque o sistema era por pontuação e quando eu cheguei lá fora o mar estava com 15 pés e eu tomei uma série na cabeça e não consegui segurar a minha prancha. Se eu tivesse conseguido pegar mais uma onda poderia ter ido até melhor e seria um dos primeiros.”

IMAGEM RETIRADA DO ÁLBUM DE FOTOS DO TITO ROSEMBERG PUBLICADO PELA MARCA TOTEM DE FRED D’OREY

“E logo na semana que eu cheguei no Rio de Janeiro, eu ainda estava na batida de Sunset, Pico Alto, Punta Rocas gigante, geral... Teve uma ressaca gigantesca no Rio de Janeiro, que provocou ondas no Arpoador que fechavam e eram tão grandes que quebrou o maior Baixio que já houve em Copacabana, surfável. Foi final de abril, ou começo de maio de 1971 (Páscoa) a água estava azul, uma coisa linda, terral, vento sudoeste.
Eu lembro que neste dia usei a gun que eu trouxe do Hawaii. Eu fiquei surfando um pouco no Posto 6, mas quando eu cheguei lá fora, pensei ‘o Posto 6 é Waikiki’ e falei para alguns amigos, vamos lá para o Baixio. Foi eu, o Mário Papinha, Canarinho, Moisés, um outro pessoal. O Betão não estava neste dia.
Quando nós fomos lá para dentro, ninguém quis entrar para a direita, porque onda mesmo, igual ao Hawaii, é ali na direita. Quando eu fui para lá, para o outro lado do pico, apareceu uma onda um pouco mais para fora. Era uma onda de uns 12 para 15 pés e pensei: ‘Caramba! Vai quebrar na minha cabeça’, e eu com uma 7’6”, sem cordinha. Eu percebi que ela encheu e não jogou para cima, decidi virar e entrar nela. Ela deu uma enchida falei, ‘É comigo mesmo’. Só que quando eu entrei na onda, como estava terral deu aquela segurada, eu pensei assim, caramba, eu vou cair aqui de cima. Mas a onda no Baixio não fica tão buraco assim. Eu não caí, vim lá de cima e surfei uma das maiores direitas que já dropei no Brasil. Eu olhei lá para baixo e lembro que demorei para chegar na base e eu andei nesta direita uma distância que eu fui parar longe, lá no Posto 4, porque a onda veio no Posto 5. Eu andei numa parede que eu fui parar no meio da baía de Copacabana. Para voltar foi a maior dificuldade, tive de achar um local que eu não ficasse no meio deste espumeiro, que não fosse tão bombástico. As espumas eram de 8 a 10 pés, vinham deslizando lá de fora.
Eu entrei na onda como se estivesse em Sunset, dei o maior viradão, fui lá em cima, desci, voltei enroscando de backside e um dos grandes testemunhos desta onda é o Cauli, ele pode contar. Eu tive a sensação do Hawaii em Copacabana, mas do Hawaii graaaandão. Não era um Havaizinho, não. Aqui TÁ grande, ahhhh... Vamos pegar umas ondas que está grande. Estava grandão.”

SAQUAREMA NO DIA QUE VIROU O BATEAU MOUCHE FOI MAIOR
(31 dez 1988) – outra história, outra década...

“Eu e Otávio salvamos uma menina, eu estava no outside de Itaúna, ondas de 12 a 15 pés. Estava, eu, Otávio, o Jacaré - Ronaldo Monteiro, pai do Raoni, que é professor de Educação Física e mais dois caras. Estávamos pegando ondas muito grandes. Era um swell oceânico, com água gelada, as ondas vinham em linhas.

Eu já vi o Carlos Burle pegar um desses aqui, que só dava para entrar nas ondas de jet ski. Estava uns 15 pés atrás da laje de Itaúna. Aqui dá onda muito grande.
Embora agora, a areia não esteja mais sendo levada lá para fora, atrás da laje, devido a construção de um píer. Então essa onda não tem aparecido muito lá fora onde antigamente era o drop e o pico. Mas temos que esperar ver um outro swell oceânico e gigantesco de leste para ver se vai quebrar. Acho que vai dar.” Refletiu Maraca, pouco mais de um ano antes de partir. Até agora essa ondulação, atrás da laje, como ele gostava de pegar (no início sem cordinhas), com os aventureiros da primeira geração de Saquá, não quebrou mais "daquele" jeito.

Neste mesmo dia de agosto de 2015, na casa de Jacques Nery, também colhi este depoimento de Otávio Pacheco sobre uma das sessões inaugurais que fizeram na Laje de Manitiba, em Jaconé.
Otávio Pacheco:  “A culpa da gente ter vindo morar aqui... Foi por causa das ondas. Era o North Shore do Rio de Janeiro. As ondas de Saquarema eram um laboratório de testes, o Maraca era um piloto de provas. E aqui, além dos fundos de areia da cidade, nós tínhamos um ‘secret spot’, que era a Laje do Jaconé, que nós começamos a surfar já naquela época. Eu caí lá a primeira vez com o Gustavo Carreira (falecido), saudoso amigo nosso, big rider.”

MARACA E UM DE SEUS MAIORES BROTHERS, OTÁVIO PACHECO
FOTO ANOS 2000 DURANTE A REALIZAÇÃO DO PRÊMIO FLUIR – RJ

Otávio Pacheco continua essa história: “Na primeira vez que caímos no Jaconé a direção da ondulação estava meio ruim e Gustavo acabou batendo com o calcanhar na pedra. Lá, ao contrário de Itaúna, você bate na laje. É uma onda selvagem, o Carreira pegou uma direita enorme, se machucou, eu peguei umas duas esquerdas, mas estava estranho. No dia seguinte eu fui buscar o Maraca, o Carreira não veio e nesse dia estava excepcional. Tinha umas ondas de 10 a 12 pés e eu vi esse cara aqui (aponta para Maraca), pegar um tubo e sair na baforada... Obviamente essa onda de Jaconé, a laje de Manitiba segundo os pescadores, é um nome indígena, mas nós chamamos de Laje do Jaconé. Ele pegou uma onda curta, mas muito intensa. Eu vi esse cara pegando dois tubos. Isso foi em 1971\72 e a partir dessa época nós começamos a frequentar essa laje. Quando Itaúna estava 12 pés fechando, ficava sem condições, nós íamos para a Jaconé. E um detalhe técnico é que não usávamos cordinha. Se perdêssemos a prancha chegávamos a nadar 40 minutos para resgatar a prancha na areia. Recentemente nós fomos ver a galera do tow-in pegar lá. Essa onda é perfeita para o tow-in. Foi o Carlos Burle, o Eraldo Gueiros e mais uma galera aqui de Saquarema, o Marquinhos Monteiro, que é nossa prata da casa. Quem mais? O Patrick... E 40 anos depois que nós caímos lá veio essa galera. E com jet ski. E realmente eles dominaram a onda. Mas nós fomos lá no peito e na raça”.
MARACA: “Deram show!
Uma vez surfando lá nos anos 70 fomos atacados por tubarões e tivemos de subir em cima da laje. A Maya Gabeira que esteve recentemente aqui, caiu em uma onda e saiu do mar como se tivesse levado um tombo de motocicleta, ficou toda ralada. É uma onda que independe do teu nível profissional, se você cair ali o risco de se machucar é muito grande. É perigosíssimo. Naquela direita eu já tive a sensação de estar 12 pés, tipo um Laniakea, mas a onda oca. Uma direita longa e muito rápida. Uma onda com fundo de pedra. Uma coisa terrível. Em Itaúna você pode até levar um caldão, mas não tem pedra embaixo.”


Maraca finaliza, sobre Saquarema: “Aqui também tem aquela magia, quando fica gigantesco de leste quebra a praia da Vila. A Vila fica igual a Pipeline. Então, eu não sei o que é melhor aqui? E você tem que ter um quiver de pranchas, porque lá na Vila as pranchas quebram como se fossem de papel. Palito. Tem dias lá que você quebra 3 pranchas e se você quiser entrar para pegar outra onda... Vai quebrar outra prancha. Se você quiser ficar jogando para dentro demais, você está arriscando. E hoje em dia está mais caro uma prancha, perto de uns R$ 1.000,00; o surf sempre foi um esporte caro. Mas aqui em Saquarema surfamos as melhores ondas de 1 a 10 pés, as mais rápidas, as mais fortes, sem o risco de você se machucar em fundo de coral.”



Otávio Pacheco e Maraca são dois de meus maiores amigos cariocas. Já fiquei na casa de Otávio em Saquarema e lembro de uma vez que Otávio veio com Maraca e ficaram hospedados comigo no apartamento do Guarujá. Eu e Otávio estávamos com longboards e Maraca veio sem pranchas nessa viagem. Quebravam umas ondas boas entre a Ilha e o Canto do Maluf, em Pitangueiras. Ofereci a Rossini uma das pranchas de meu quiver para ele cair conosco. Ele escolheu uma Tropical Brasil que eu tinha (tenho até hoje), uma 6’4” toda amarela, na qual havia colocado aqueles decks da Atomic, verdes (ficou bem patriota) não só na rabeta, mas também na parte da frente, eu sempre caía com uma lycra com essa prancha, para não assar o peito. E também nunca havia passado parafina, porque achava que não precisava e esteticamente queria deixar ela “clean”. Depois que parafinamos os pranchões, Maraca pegou a parafa e mandou bala passando em cima de todo o deck da rabeta até quase o bico. Engoli em seco, mas... ‘Fazer o que?’ É o Maraca que está fazendo isso. Um legend – a gente respeita e pronto.
Maraca e Otávio, juntos, sempre formavam uma situação um pouco hilária. As gozações rolavam na espontaneidade, mas ao mesmo tempo dava para sentir que no ar pairava uma amizade muito profunda. Guardo recordações incríveis destes mestres. Procurem na linha do tempo deste Blog: HISTÓRIAS DO SURF um pouco da sensacional carreira de Otávio Pacheco, em PARTE 1 e PARTE 2 também.


NO GRAMADO DA CASA DE JACQUES NERY, ITAÚNA
JACQUES FILMANDO MARACA, TONICO VASCONCELOS OPERANDO O SOM
OTÁVIO E PENHO AO FUNDO
FOTO: DRAGÃO

Ainda tenho declarações destes três legends: Penho, Maraca e Targão que poderei estar utilizando em meu livro, que finalmente deve começar a ser lançado (o primeiro de 5 VOLUMES), a partir do final deste ano.
Para buscar mais informações: WWW.HSURFBR.COM.BR

Para finalizar, mais algumas imagens de Maraca que venho garimpando na web, ou tenho scaneado de revistas e livros.

EXPEDIÇÃO BRASIL SURF PARA A ÁFRICA DO SUL – MID 70’s
DANIEL FRIEDMANN, RICO, FLÁVIO DIAS (COORDENADOR DA EQUIPE E SÓCIO DA REVISTA BRASIL SURF), BOCÃO E MARACA

ESTA FOTO FOI RETIRADA DE UMA DAS PÁGINAS DO LIVRO DE ALEX GUTENBERG: “HISTÓRIA DO SURF NO BRASIL – 50 ANOS DE AVENTURA”, PUBLICADO EM 1989
SURFISTAS DE PÉ: RICARDO MEYER – KADINHO, MARACA, PAULO PROENÇA – RATÃO, OTÁVIO PACHECO – TARGÃO, E AGACHADO PETIT – MENINO DO RIO E AS GAROTAS CARIOCAS
FOTO: MÚCIO SCORZELLI

MARACA EM FOTO RECENTE AO LADO DE SUA COMPANHEIRA HELOISA WILLON
FOTO RETIRADA DO FACEBOOK DE HELOISA

1967, TITO ROSEMBERG REGISTROU A VIAGEM QUE FEZ COM MARACA (SENTADO NO BANCO DE PASSAGEIRO) COM SEU JIPE, DE SAQUAREMA ATÉ ARRAIAL DO CABO

EQUIPE WAIMEA: WANDERBILL, IANZINHO, OTÁVIO E MARACA
RECORTEI DA INTERNET
(DESCOBRINDO O AUTOR DO CLIC... EU GOSTARIA DE CREDITAR)


Este blog anda em paralelo com o projeto do livro A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO, já entrevistei ao redor de uma centena de surfistas, em diversos Estados do Brasil, graças ao apoio dos parceiros que figuram ao lado. Ainda tenho muitas vivências inéditas, depoimentos fantásticos para colocar neste blog e também no livro. Pretendo deixar estes registros descontraídos para consulta de todos os interessados em conhecer esta história.

No livro, elaborado de forma mais técnica e profissional, as fotos selecionadas serão remuneradas com uma tabela de respeito pelo trabalho destes fotógrafos que preciosamente registram essa bela história. Continuo a fazer este blog com paixão e convido empresas que recolham ICMS em São Paulo para participar do projeto de concretização do LIVRO e terem seu logo veiculado aqui (na coluna da direita).

Para informações, no LINK abaixo, utilizem o Número de Código do Projeto: 21390