domingo, 26 de março de 2017

MARACA, PARTE 1

Legend de primeira grandeza

Rossini Maranhão Filho é um dos mais importantes surfistas que o Brasil já teve. Ele nos deixou em novembro de 2016 e durante todos os ANOS 2000 já era venerado como um de nossos grandes “tribal elders” - anciões da tribo. Vamos conhecer um pouco mais profundamente a sua história.

NA CASA DE MARACA EM SAQUAREMA, ONDE ESTIVE EM AGOSTO DE 2015, APROVEITEI A OPORTUNIDADE PARA CAPTURAR, COM MEU CELULAR, UM POSTER COLOCADO NA PAREDE DE SUA SALA
MOMENTOS DE AÇÃO DE SUA CARREIRA
FOTO: DRAGÃO

Vocês já conhecem meu estilo neste blog, que anda em paralelo com o trabalho de pesquisa para a construção do livro A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO. Finalmente consegui a aprovação com a Secretaria da Cultura de SP para lançar (o primeiro de 5 VOLUMES), a velocidade dependerá da captação dos recursos aprovados. A obra completa ficará disponível ao longo de 2017, 2018 e 2019.
Este blog vai estar trazendo e deixando para consulta dos interessados, muito mais informações do que no livro. Pela densidade e profundidade aqui apresentadas, estas histórias escapam do escopo mais informativo e abrangente do livro impresso e a limitação total de páginas (660 – 132 POR VOLUME) que estou prevendo e que estarão muito mais ilustradas do que carregadas de texto.
Neste contexto, aproveito esta oportunidade de reverência ao mestre Maraca, supremo contador de histórias, para deixar praticamente a íntegra, com pouquíssimas edições, do que gravei com ele mesmo contando a sua história.

ROSSINI MARANHÃO FILHO, NO JARDIM DA CASA DE JACQUES NERY EM SAQUAREMA, LOCAL EM QUE FOI COLHIDO ESTE DEPOIMENTO
FOTO: JACQUES NERY

Estas sessões de gravação ocorreram em agosto de 2015, aqui colocarei o início da história de Maraca, até ele voltar do Hawaii no meio de 1970. Seguindo os passos de Penho, ele foi o segundo brasileiro a passar uma temporada surfando no Hawaii e chegou para a Era do Píer, mas isto estará na PARTE 2 desta homenagem (breve aqui neste blog).
Por hora deliciem-se com o início de sua história no surf:

“Meu nome completo é Rossini Maranhão Filho, nasci em Belém do Pará em 3 de março 1950. Meu pai era diretor do setor aduaneiro e minha mãe trabalhava no Ministério da Fazenda. Meu pai trabalhava muito nos limites do Brasil, nas fronteiras. Mudamos bastante, fomos morar em São Paulo, voltamos para o Rio. Eu sempre continuei com o surf.
Com quatro anos de idade minha família veio do RS (Porto Alegre) para o Rio de Janeiro, em 1954 comecei a frequentar Copacabana, aos 6 anos já pegava jacaré de peito e era íntimo das ondas de Copacabana e das valas. Em Copacabana, antes de fazerem o aterro, quebravam ondas enormes lá de fora, era como se fosse uma Macumba, só que tinha uns bancos de areia e as ondas vinham abrindo grandes até a beira com quebra-cocos enormes. O Posto 5 ficava perfeito, com vento sudoeste o Baixio quebrava perfeito. As ondas quebravam desde o Leme, até o Posto 6 lá de fora, eram maravilhosas.
Eu adorava o contato com o mar. Comecei pegando ondas de jacaré de peito, com pés de pato. Depois tinha uma tabuinha, chamada Oceania, a gente ia deitado. Pegávamos ondas enormes de até quase 3 metros e vínhamos deitados com aquelas tabuinhas, no corte, até a vala. Quando as ondas abriam ficava muito bom em Copacabana e desde os 6 anos eu tinha contato com o mar, que eu adorava, morava ali em Copacabana e era muito bom aquilo (1956). Pegávamos ali no Posto 5, na Miguel Lemos, Bolívar... E o Posto 6 quando o mar ficava grande.

PRANCHA SIMILAR A UM MODELO OCEANIA

Em 1963 teve uma ressaca gigante e nessa época todos nós já pegávamos de madeirite, nós havíamos evoluído da prancha Oceania para a madeirite, pranchas da Ilha do Governador, de compensado naval, que pesavam uns 15 quilos. Tinha também as pranchas da R. Francisco Otaviano. Desde de 1956 eu não saía de dentro d’água. Depois das madeirites vieram as pranchas de fibra. Logo começaram a chegar as pranchas importadas.
Nesta ressaca de 1963 que eu falei, o Posto 6 ficou “olímpico” durante uma semana, esta ressaca jogou muita areia no Posto 6 e ali, quase nunca quebrava, só uma ondinha bem perto da pedra quando dava o vento sudoeste. Ela batia assim na pedra e vinha, mas nunca tinha muita onda vindo lá de fora. Quando aconteceu esta ressaca em 63 elas vinham lá da ponta da pedra, quase na altura do canhão do Forte de Copacabana e parecia que era um point break de direitas. Acumulou uma quantidade de areia jamais vista no Posto 6. Foi uma coisa fora de série, vinham ondas sem parar, lá de fora. E existiam poucas pranchas, não tinha crowd era a mesma galera de sempre. O crowd maior era o pessoal com Planondas e tabuinhas Oceania. Durante seis meses ficou quebrando olímpico ali, era um espetáculo, você vinha lá de fora em ondas muito especiais para longboard. Ela não fechava, era tipo Waikiki e você surfava em um longo caminho até a beira, formou um Point em Copacabana, depois foi saindo a areia, assoreando, mas mesmo assim ás vezes ainda dá umas ondas lá até hoje. Se der uma ressaca de leste e jogar areia ali no canto, é um bom point para quando entra o vento sudoeste. Hoje é point dos Stand Up, um point break.
Minha primeira prancha de madeirite foi com 12 para 13 anos, logo depois vieram as pranchas de fibra, depois de dois anos, eu logo tive uma. Aí começou o surf constantemente de longboard, fazíamos aqueles nose rides, que era a manobra máxima e o Arpoador era a praia local, era muito legal a gente surfar. Basicamente a gente surfava no Arpoador em dias de leste e quando dava o vento sudoeste íamos para o Posto 6, ou o Posto 5. Para quem gostava de pegar onda como nós, não tinha nenhum dia sem ondas. Começamos a pegar vários tipos de mares e isso, associado à atividade física, que era importante. Eu fui nadador do Clube Fluminense, sempre tive um relacionamento com a água, muito grande. Surfar para mim foi a maior descoberta do mundo e eu estou nessa até hoje.
Minha segunda prancha foi uma Royal Hawaiian, eu fui morar nos Estados Unidos como intercâmbio cultural e quando eu voltei eu trouxe essa prancha, era uma coisa pré-moldada, tipo uma pop up, mas ela era muito boa, esta foi a minha primeira prancha de fibra, uma 9’4”, depois eu vendi esta prancha e consegui uma 9’2” - Con Surfboards, wing nose, ela era branca e tinha uma lista vermelha no bico e foi com esta prancha que começou aquele show do David Nuuhiwa de andar até o bico, o longoboard virou um show de nose rides, depois que passou o filme Endless Summer (1967). Então aquelas manobras, com estas pranchas longboards melhores, foi o ápice do longboard. Até o Penho chegar com aquela mini model e a gente decolar e começar a fazer pranchas aqui.
Minha terceira prancha foi uma Greek 7’7”, que um marinheiro americano chegou aqui com ela, logo depois que o Penho chegou. Em 1968 esse marinheiro trouxe uma mini model, que eu comprei por US$ 250,00. Usei muito essa 7’7” que era uma pin tail muito boa. Então como não havia mini models, só tinha a do Penho, a gente recortava os pranchões e achava que fazíamos mini models, mas não eram mini models, era uma coisa meio diferente.
Mas durante todo este período a gente nunca deixou de pegar ondas por um motivo ‘Ah, não tem prancha’, ‘Ah, não tem parafina’, a gente se virava, aparecia prancha, aparecia parafina e aparecia o tempo também para surfar e ficar dentro d’água. E era isso que a gente queria, estar dentro d’água com uma prancha boa...”

Maraca começa a fazer outras divagações que estarão na Parte 2.

A PRIMEIRA VINDA A SAQUAREMA
Rossini Maranhão, mais uma vez com a palavra:

“Naquela época era diferente, olha só, essa evolução toda que eu falei, das pranchas mudando, aparecendo parafina, antes a gente não tinha nada...
A primeira vinda para Saquarema ainda foi na época dos longboards, 1964, 65, 66 nós surfávamos na Barrinha, que sempre foi um point break maravilhoso de direitas e ali sempre foi muito perfeito. Depois nos dias maiores fomos até Itaúna e o mar estava de leste, tinha tubos para a direita maravilhosos, impecáveis. Começamos a perceber que a direita de Itaúna era constante, boa, regular e fácil de entrar de longboard, porque você podia circundar, pegar a onda, sair e voltar logo e era uma onda emocionante, porque ela tinha um poder, uma força muito boa. Percebemos que quando subia o mar dava as esquerdas e nos dias menores as direitas, embora com água gelada e sem roupa, nós entrávamos e ficávamos menos tempo, mas ficávamos.
Uma das primeiras viagens que fiz estava com Tito Rosemberg, ele que me colocou o apelido de Maraca.”

IMAGEM RETIRADA DO ÁLBUM DE FOTOS DO TITO ROSEMBERG
PUBLICADO PELA MARCA TOTEM DE FRED D’OREY

APELIDO
“Todo mundo me chamava de Maranhão, Maranhão... Alguns me chamavam de Rossini, mas na época eu pulava tanto na prancha que o Tito chegou e falou,’Pô tu parece uma Maraca pulando.’ E aí pegou o Maraca, que foi uma coisa fortíssima. E o Maraca se tornou um bom atleta, um cara que se apresentava com um surf bacana de ver e todo mundo ficava amarradão. Mas amarradão mesmo.

E nós viemos explorando a costa toda no jipe dele, ele tem até umas fotos de vários lugares. Quando nós passamos aqui o mar estava gigante em Saquarema, fomos até Massambaba e estava maior ainda e nós ainda fomos até Búzios e Geribá, pegamos ondas em Geribá (tem uma foto da gente lá em Geribá), voltamos para cá – Saquarema, no dia seguinte e o mar estava enorme, caímos com umas ondas gigantescas. Aí a gente começou a surfar ondas grandes aqui constantemente.”

PERU E HAWAII
“Antes de eu ir para o Hawaii vendi minha prancha Greek (terceira prancha). Eu levei ela para o Peru para participar do campeonato internacional em 1968, foi a minha primeira viagem internacional, o campeonato era patrocinado pela Aero Peru, isso foi em fevereiro de 1968. Participei do campeonato em Punta Rocas, cheguei lá na hora da minha bateria, não me dei bem, mas surfei com a minha Greek. Eu fiquei em terceiro lugar na bateria, era a primeira vez que eu surfava em Punta Rocas. Na bateria não lembro quem estava, mas era só gente famosa da época. No campeonato estavam Barry Kanaiaupuni, Ben Aipa, Fred Hemmings, Gordo e Flaco Barreda, Chino Malpartida, Fernando “Pocho” Awapara, Butch Van Artsdalen, Eddie e Clyde Aikau, Mike Purpus, era só gente muito boa.
Nessa viagem fiquei mais de dois meses e meio, peguei todas as ondas dali, fui para Chicama e ainda desci uma onda em Pico Alto com essa Greek, 7’7”. Neguinho falou ‘Pô cara, não acredito’ e todo mundo ficou chocado. Virei uma vaca lá, em Pico Alto gigante, que eu pensei que iria morrer. Eu consegui dropar uma onda de 23 a 25 pés, de remar e entrar nela, mas aconteceu que no final do drop veio um calombo e quando a prancha passou em cima eu voei longe e a onda se mexe muito rápido e pra frente em Pico Alto, então eu fui escorregando na face da onda, uns 6 a 8, 10 metros na face até tomar não sei quantas toneladas de água em cima da minha cabeça e é um caldo muito forte, eu não conseguia subir e quando você sobe a camada de espuma é muito alta, você está na superfície e mesmo assim fica aquela espuma. Eu estava sem cordinha e levei quase uma hora, ou 45 minutos, para sair do mar. Tem até uma foto que saiu em uma revista, não lembro se tinha o drop, ou eu caindo, mas tinha uma citação sobre o fato: ‘Sopresamente el brasileño Maraca entrou em Pico Alto’. O Clyde Aikau olhava para mim e falava ‘puta que pariu!’ E eu ainda peguei uma onda antes de virar essa vaca toda, porque veio uma de 26 pés e tive de sair remando e foi nessa rebarba que eu tomei uma na cabeça. Porque eu tive de entrar na onda da frente de qualquer jeito, para não tomar a de trás que era maior ainda, aí eu entrei na da frente que tinha uns 20 e poucos, mas acabei tomando a série toda.
Mas eu dei um drop que eu nunca mais vou me esquecer. Só que eu acabei saindo amarelo de dentro d’água, com medo. Minha prancha foi parar em El Silêncio, o pessoal todo me esperava na beira da água. Você tem que nadar aquilo tudo, lá de fora, ainda com aquelas maláguas te queimando, depois encarar aquele inside de 3 metros de altura. Aquela arrebentação tipo um Macumbão, sair e pegar um jacaré de peito. Eu fui parar, sei lá, em Señoritas onde eu consegui sair. Você tem que ter um preparo muito bom. Um pulmão de primeira para aguentar. Graças a Deus, como eu era formado em Copacabana e era nadador, o meu conceito sempre foi de ser atleta. Atleta que cuidava da saúde em benefício do esporte, para poder ter uma performance legal. Eu sempre fui como atleta, amarrado em fazer uma super-ultra performance legal, todo mundo sabe disso.”
...

MARACA - TEMPORADA HAWAII 1969 \ 1970
“Eu cheguei lá em setembro e saí de lá já era quase março, em fevereiro.
A viagem para o Hawaii foi o seguinte: Eu estava no segundo ano de administração na UEG – Universidade Estadual da Guanabara e tranquei minha matrícula em junho de 1969. Na época forte do AI-5, muito perigoso, na minha faculdade tiveram tiroteios, ataques e as pessoas sumiam. E como os jornais e as televisões falavam mal dos surfistas naquela época, que não eram o tipo de pessoa ideal, que eram vagabundos e ‘otras cositas más’, os surfistas eram muito discriminados, eram pessoas que não eram bem vistas pela sociedade, porque gostávamos de deslizar sobre uma onda e isso era considerado anormal. Então eu falei, pô, vou dar um tempo nos EUA, fui para a Califórnia, para Los Angeles com o Mário Papinha (Barcellos hoje mora em SP), passei antes no Peru e estava muito frio para surfar, em julho o tempo não é muito bom lá e eu fui para a Califa.
Bom, eu estava no meio do segundo ano de administração e fui para lá e fiquei na Califa, morando em Malibu Canyon, fui para o México. No começo eu pegava ondas em Venice, Huntington, andamos por ali, fiquei um mês de férias. Eu e o Mário ficamos amigos de uns brotos assim maravilhosos “California Girls”, e a gente ia curtir a Disneylandia todos os dias, não era só para crianças, tinha shows, casas de festa e era o ponto de encontro das gatas americanas. As mais maneiras estavam ali, a frequência não era de crianças e sim de gatinhas.
Fiquei trabalhando lá até setembro e a dona do lugar onde eu trabalhava falou, eu devo para você uns US$ 600, então eu vou te acertar. Eu liguei para o aeroporto e perguntei quanto era uma passagem para o Hawaii, era uns 150 dólares. Falei: ‘Reserva aí para Rossini Maranhão Filho, passaporte número tal, tô embarcando agora’, peguei um taxi e fui para o Hawaii naquele dia.
O Mário desistiu, ele voltou para o Rio, a mãe dele não deixou ele ir para o Hawaii. Cheguei lá no Hawaii não tinha nenhum brasileiro, era 5 de setembro de 1969, o Penho já tinha voltado fazia um ano e meio em 1968, cheguei lá ninguém sabia onde era o Brasil, quem era o Penho. Eu fiquei lá residente com os peruanos. Eles eram um exército de surf. Fiquei com Chino Malpartida, Gordo Barreda, Ivo Hanza, Flaco Barreda, Pocho Awapara, só o pessoal de ondas grandes. Eles tinham pranchas 9’4”, 9’8”... Perguntavam, você vai fazer que prancha? Uma 9’8”. Ahhh, meu Deus do céu. E ficamos ali em Sunset e todo dia morando ali e eu já tinha conhecido o Clyde e o Eddie Aikau no Peru.
No começo do Hawaii eu cheguei lá com uma 7 pés e fui querer cair em Sunset e acabei perdendo a prancha na correnteza. Aí fui mandar fazer uma 7’10” e depois surfei com uma prancha do Charlie Galanto, que me shapeou de graça. O Ben Aipa me fez uma 7’7”. Depois o Charlie Galanto me fez uma 7’10”. Lá eu não trabalhei com pranchas, trabalhei um pouco como jardineiro. Pintou um serviço, me ofereceram e como eu gosto de jardinagem, quando eu não estava surfando eu cuidava do parque lá em Waimea Falls, porque uma menina que eu estava saindo era de lá, era a diretora de paisagismo do Waimea Falls e ela viu que eu gostava de plantas e como eu aqui em Saquarema também planto papaya, planto coqueiros e sei da vida das plantas, ela me convidou. Eu ganhava 11 dólares a hora para cuidar do jardim do Waimea Falls Park. Trabalhava toda a semana em Waimea Falls, ganhava uma grana lá.
Naquela época não tinha dinheiro de papai, de mamãe, nem patrocínio não. Era salve-se quem puder. Eu fiquei 6 meses até março de 1970. Nos primeiros dias, até outubro eu estava ainda meio cru naquelas 'mórras'. Muita ondulação de norte, swells meio traiçoeiros, você está lá dentro e vem uma onda lá na casa da cacilda. Aí fui acostumando, pegando ondas de 12 pés, 15 pés, aí teve um dia de 18 pés e eu acabei caindo em Waimea, peguei duas a três ondas boas.
Eu pegava bons tubos, em Sunset eu dei cada batida de backside, inacreditável. Eu acertei uma lá, em um dia de 12 pés, que foi bem frontal e que quando eu reentrei eu falei eu vou cair. Mas eu caí vertiginosamente, em uma ‘angulagem’ 90 graus, prefeita. Virei e a placa caiu em cima de mim, mas eu completei a manobra, virando e cortando assim, igual navalha. Uma Ferrari na curva, largando borracha.
Joey Cabell me falava, “If you make a backside snap like that, you’ll gonna be world champion”, e eu me inspirava nas batidas do BK que eram batidas de frente. E eu comecei a subir reto e pegar velocidade que nem o Jackie Baxter, o estilo do Billy Hamilton e misturei com a agressividade do Ben Aipa, mais tudo de bom do Jock Sutherland, que era um cara cool. Então, meu estilo foi baseado nesse pessoal do surf, que não era o pessoal do longboard não, era o pessoal que surfava bem em ondas grandes. Eles faziam um surf hot dog. A gente botava para dentro em canudos de 12 pés. O Jackie Baxter e outras pessoas viram eu lá andando dentro de canudos de 12 pés. De backside, relax, lá dentro e neguinho falava, ‘Pô, o tal do Brazila, heim!!!’
Finalmente eu comecei a surfar do jeito que eu queria. Eu tinha entrado em forma, acabei me acostumando com as ondas do Hawaii. Você remando em Sunset, você rema em qualquer lugar, o resto do mundo parece brincadeira. Se você remar em Sunset, folgado, você rema em qualquer lugar do mundo muito bem. Até em Waimea, Pico Alto, Todos Santos, qualquer lugar. Baixio, Saquarema...
Sunset para mim era a onda preferida, porque eu morava ali em Sunset Point. Ali também não quebrava pranchas como Pipeline, e eu não estava com muita grana, então eu consegui ficar com uma de minhas pranchas sem quebrar durante toda uma temporada, embora eu enfrentasse situações para lá de esdrúxulas.
Eu tinha essa 7’11 e uma 7’6”. Caí em Waimea de 7’11”, fui pra lá com o Ivo Hanza e ele falou, vamos lá Brazila, que eu te dou uma força, nesse primeiro dia que eu surfei Waimea dropei seis ondas, um dia com 20 a 22 pés. De manhã estava o Corky Carroll que quebrou três pranchas. O terral estava muito forte e quase ninguém conseguia entrar nas ondas e de tarde parou o vento, ficou mais mellow. Ficou o Waimea mais perfeito do mundo, as ondas vindo no mesmo lugar, não tinha uma onda maior do que a outra, mas estava com 20 para 22 pés.
Depois deu aquele swell famoso, gigante do Greg Noll, de 1969 eu estava lá. Nós não fomos surfar em lugar nenhum, subimos o Sunset Hill para fugir do maremoto. Pare a gravação que eu te conto a história toda.”
NÃO CONTOU

Com Maraca fiz quatro sessões de gravação em agosto de 2015, algumas delas ao lado de Penho e Otávio Pacheco. Jacques Nery tem parte disso registrado em vídeo.
Já coloquei neste blog a imagem abaixo. Isso é uma página dupla da revista Fluir de outubro 2015, a edição de 32 anos, o último aniversário da saudosa publicação. A matéria, concebida pelo editor chefe na ocasião, Adrian Kojin, tinha 14 páginas e era dedicada a Penho (Carlos Eduardo Siqueira Soares), o primeiro brasileiro a ir surfar no Hawaii e o fecho da matéria era esta página dupla.

REPRODUÇÃO DA FLUIR #360
BAIXEM ESTA IMAGEM E AMPLIEM EM SEU COMPUTADOR QUE DARÁ PARA LER

Este é apenas mais um trecho das entrevistas que fiz com Maraca. Aguardem a Parte 2, com muito mais informações e fotos, em breve aqui.
Para fechar, as últimas explicações de Rossini sobre esta viagem e seu regresso ao Brasil, pronto para atacar as ondas do Píer de Ipanema.
Maraca: “Fui pedir o visto para morar no Hawaii, o cara da imigração do FBI falou que dava se eu ficasse lutando dois anos no Vietnam. Preferi voltar para o Brasil. Na volta parei na Califórnia, fiquei com o Tito um tempão lá, surfando Sunset Cliffs. Depois eu fui para o México. Aí eu fui para o Peru e voltei para o Brasil no meio de 1970. No Peru cheguei no dia do evento Internacional de Tablas Havaianas em 1970, cheguei atropelando Punta Rocas. Lá tem um hábito que quando você via uma onda boa, os caras jogavam o chapéu. O Rico viu a minha direita. Porra! Chapéu voou pra caramba lá.”

Maraca tinha um jeito único e colorido de contar as histórias. Com certeza minha ideia era voltar a Saquarema (o que farei este ano ainda – para montar o capítulo PICOS DE SURF sobre a região), entregar um exemplar desta Fluir, em mãos, para ele e Penho. E buscar mais destas maravilhosas histórias do Maraca. Isso ficou na vontade.
Mas o legado de Maraca é muito poderoso. Na Parte 2 desta homenagem, que será ainda maior, muitas outras passagens e imagens ficarão “posterizadas” aqui em meu blog.

IMAGEM RECORTADA DO SITE DA REVISTA SURFAR EM NOVEMBRO DE 2016. DIA TRISTE PARA A MEMÓRIA DO SURF BRASILEIRO
FOTO DE FÁBIO MINDUIM NO ARPOADOR

As performances de Maraca, quando ele voltou ao Brasil, IMAGINEM?! Fresco de uma temporada havaiana, foram antológicas. Chegou junto em campeonatos de Ubatuba (vice), Píer e Saquarema. Arrebentou e fez escola nas ondas brasileiras.

Se eu pudesse resumir o surf de meu amigo Maraca em uma única palavra, esta seria DESPOJADO. Este é apenas um aperitivo desta homenagem que pretendo prestar ao grande Rossini Maranhão Filho.

Para finalizar, mais uma imagem do ídolo. Surfando no Arpoador, recém-chegado do Hawaii.

ESTA FOTO ESTÁ NO POSTER DA CASA DELE 
E AQUI PEGUEI DA INTERNET
AINDA PRECISO PESQUISAR QUAL O FOTÓGRAFO, ENCONTRAR ESTE ORIGINAL E É UMA IMAGEM QUE GOSTARIA DE PUBLICAR, EM ALTA DEFINIÇÃO, EM MEU LIVRO

Para este projeto do livro A GRANDE HISTÓRIA DO SURF BRASILEIRO já entrevistei ao redor de uma centena de surfistas, outras tantas ainda agendarei. Na medida em que o projeto for evoluindo, considero este blog tão valioso quanto o próprio livro e darei meu melhor para trazer um alto padrão de qualidade e fidedignidade a ambos.

Para buscar mais informações: WWW.HSURFBR.COM.BR


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